Todos sabem que Ludwig van Beethoven ficou surdo. Talvez, além das famosíssimas composições (muitas delas compostas após a surdez), ele seja mais conhecido por ser ‘aquele compositor que ficou surdo’. A visão que quero tratar neste post é toda a enxurrada de sentimentos e angústia do alemão em relação à sua surdez. Aliás, como poderia alguém que vive de música sofrer de surdez logo aos 26 anos? Bom, a seguir, o que você provavelmente não sabia sobre a surdez de Beethoven.
SIMPATIAS E MÉTODOS ABSURDOS
Tentativas de cura foi o que não faltou na triste jornada do músico. Visitou vários médicos e tentou das mais estranhas técnicas de recuperação da audição e de diminuição da dor (para quem não sabe, a sua condição era acompanhada de grandes dores e estalos nos ouvidos). A grande maioria, porém, fizeram foi piorar o estado da audição. Eram métodos totalmente empíricos e mal executados. Alguns deles:
- retonificação com óleo de Mandorle
- banhos frios e banhos quentes
- banhos rápidos no rio Danúbio
- torniquete no braço
- saunas
- estimulações elétricas de corrente contínua
PARANÓIA
Beethoven era uma figura pública, reconhecido por suas obras. Como tal, então, ele tinha amigos mas também inimigos. E mais, tinha uma reputação a zelar, e temia que a surdez progressiva pudesse afectá-la. Pelas suas cartas e depoimentos de amigos, o músico alemão tinha uma preocupação fora do normal (mas compreensível) com o pensariam dele por ser surdo. E junto com a paranóia vinha a vergonha de perder capacidades que para ele eram completamente naturais, como perceber sons a longas distâncias ou certos instrumentos na orquestra.
“E se os meus inimigos vierem a saber? O que falarão por aí? Para te dar uma ideia desta estranha surdez, no teatro eu tenho que me colocar pertíssimo da orquestra para entender as palavras dos atores e a uma certa distância não consigo ouvir os sons agudos dos instrumentos e do canto. Surpreendentemente, nas conversas com as pessoas muitos não notaram minha surdez, acreditam que eu sou distraído (…) Tive que viver sozinho e se estou com alguém fico com uma enorme ansiedade do medo de correr o risco de se notar a minha condição. Provei desta humilhação quando um aluno que estava ao meu lado ouvia o som de uma flauta e eu não, ouvia o canto de um pastor e eu nada”. Cartas de Beethoven quando tinha 31 anos.
SOLIDÃO
É obvio que alguém que é surdo estará de alguma forma alheio ao mundo ou convívio social, ou seja, experimentará um pouco da solidão. O que dizer então de alguém que desde os 8 anos se relaciona com músicos e construiu toda sua vida em um meio musical e com pessoas relacionadas à área? O resultado é falta de assunto, falta de contato e, como citado acima, vergonha de se relacionar. E para piorar o caso de Beethoven, ele teve que se mudar para o campo (local afastado) quando ele se declarava amante de cidades.
“Há quase 2 anos me afastei de todas as atividades sociais, principalmente porque me é impossível dizer para as pessoas : Sou surdo! (…) Para meus amigos e para aqueles que pensavam que eu era anti-social, distraído e ermitão, me julgaram mal. Vocês não conheceram a causa secreta disso tudo. (…) Nascido com um temperamento ardente e ativo e sensível às atrações da sociedade, tive que bem cedo me isolar e transcorrer a vida em solidão.” Cartas de Beethoven.
DEPRESSÃO
A depressão é o resultado inevitável dos dois itens anteriores. O descontentamento dele é como uma poesia byroniana, onde quase escolheu a morte em algumas ocasiões. Convenhamos, deve ser insuportável ir perdendo aos poucos a única coisa que o interessava: a música. Felizmente, foi exatamente a música que o fez mudar de ideia várias vezes.
“Quase coloquei fim à minha vida algumas vezes. Foi a música que me entreteve. Me parecia impossível abandonar este mundo antes de criar todas as óperas que sentia imperiosa necessidade de compor. Esta foi minha vida, angustiosa.” Cartas de Beethoven.
Beethoven morreu aos 56 anos em Viena, na Áustria, e teve um grande velório. Mas maior ainda foi a sua contribuição para a música.
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